
Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) tem sido um dos assuntos mais discutidos em diversos setores, desde a indústria de entretenimento até o campo da arte. Atores, roteiristas, dubladores e muitos outros profissionais estão preocupados com o impacto dessa tecnologia em suas carreiras. Com o desenvolvimento de ferramentas como deepfakes e IA generativa, surgem questões éticas e jurídicas que ainda precisam ser exploradas.

Muitos setores da indústria criativa, incluindo o artístico, estão receosos quanto ao futuro. Nos últimos anos, testemunhamos greves de roteiristas e atores, além de movimentos de resistência entre dubladores. E não é para menos: deepfakes de vídeos estão cada vez mais comuns, gerando confusões e prejudicando a imagem de muitos. Em breve, pode ser difícil distinguir o que é real do que foi criado por IA.
A questão aqui é: até que ponto podemos prever o futuro da IA na sociedade e como podemos nos proteger? Artistas, atores, escritores e dubladores enfrentam um momento de incerteza, com a possibilidade de substituição por tecnologias que imitam suas habilidades.
A IA generativa é a tecnologia que permite a criação de novos conteúdos com base em dados existentes. No entanto, esse tipo de "criação" é bem diferente da humana. No campo do direito autoral, por exemplo, apenas a criação humana é reconhecida como tal. Apesar disso, as grandes empresas de tecnologia investem fortemente em IA, buscando eficiência e maximização de lucros, muitas vezes sem considerar o impacto cultural e social dessa substituição.
A introdução da IA em áreas como dublagem e composição de jingles já é uma realidade. Em campanhas políticas, por exemplo, já se utilizam vozes geradas por IA, gerando preocupações legítimas sobre o desaparecimento de profissões tradicionais.
O debate sobre IA não é apenas jurídico; é também profundamente ético. O que queremos para nossa sociedade? Desejamos uma realidade em que tudo seja produzido artificialmente? A criação humana tem um valor que vai além do que a IA pode oferecer. A IA, alimentada por dados existentes, apenas replica estilos e formas já conhecidos. Ela não é capaz de criar algo verdadeiramente novo, algo que rompa paradigmas.
O exemplo do criador da série "Black Mirror" é bastante revelador. Após perceber que seus enredos distópicos estavam se tornando realidade, ele pediu ao ChatGPT para criar um episódio no estilo de "Black Mirror". O resultado foi um episódio que ele mesmo reconheceu como algo que poderia ter escrito. Isso o fez refletir sobre sua própria previsibilidade e o levou a explorar novas direções criativas na temporada seguinte, algo que uma máquina não poderia fazer sozinha.
A IA pode ameaçar o "criador médio", aquele que produz obras dentro de paradigmas já estabelecidos. Por outro lado, o gênio criativo, aquele que rompe com esses paradigmas, continuará a existir. A IA pode imitar Picasso, mas não criar um novo Picasso. Assim, as grandes preocupações giram em torno do impacto da IA na produção artística mediana, que é a maior parte do que consumimos diariamente.
Se a IA pode "matar" o criador médio, isso representa um risco significativo para a diversidade da produção cultural e artística. O debate não é apenas sobre quem pode ou não usar essas tecnologias, mas sobre o que queremos para nossa sociedade como um todo. Queremos uma realidade onde tudo seja otimizado para agradar o público de forma previsível e segura, ou desejamos um espaço onde a arte possa desafiar, provocar e até desconfortar?
Hoje, a sociedade está cada vez mais refém da necessidade de ser entretida de maneira leve e previsível. A arte que desafia essa expectativa, que provoca reflexões ou sentimentos intensos, corre o risco de ser ignorada ou cancelada. E a IA pode, inadvertidamente, reproduzir e reforçar essa tendência, eliminando o espaço para o novo e o inesperado.
Estamos diante de um momento crítico para a arte e a criatividade. É necessário refletir sobre os limites da IA e sua influência na produção cultural. Será que desejamos um futuro onde a criatividade humana seja secundária? Ou estamos dispostos a defender o valor da criação humana, mesmo diante dos avanços tecnológicos? Essa é uma discussão que deve ser levada a sério por todos nós.
