A Inteligência Artificial (IA) tem o potencial de revolucionar a saúde digital, prometendo diagnósticos mais precisos, tratamentos personalizados e uma gestão mais eficiente dos sistemas de saúde. No entanto, sua implementação na prática clínica enfrenta desafios significativos. Neste post, exploramos as oportunidades e os obstáculos para a integração da IA na medicina, com base em uma conversa com a Dra. Fabíola, responsável pelo laboratório de Inteligência Artificial do Hospital das Clínicas (HC), e Jackson Barros, especialista em tecnologia na AWS e ex-diretor de TI do HC.

A Dra. Fabíola apresentou o trabalho do Inova HC, destacando projetos que utilizam IA em diferentes áreas da saúde. Desde a criação de uma plataforma de aprendizado federado, que permite o treinamento de modelos de IA com dados de múltiplas instituições sem comprometer a privacidade do paciente, até o desenvolvimento de algoritmos para diagnóstico de COVID-19 em imagens médicas e predição de risco cirúrgico, o HC demonstra o potencial transformador da IA. Contudo, a Dra. Fabíola ressaltou a dificuldade de integrar essas soluções no fluxo de trabalho clínico e nos sistemas médicos eletrônicos, um gargalo crucial para a ampla adoção da IA.
Jackson Barros complementou essa visão, enfatizando a importância dos dados para o sucesso da IA na saúde. Ele destacou que, embora a quantidade de dados gerados por pacientes seja imensa, os modelos atuais de IA trabalham com um número limitado de pontos de contato. A capacidade de integrar e analisar dados de diferentes fontes, desde prontuários eletrônicos até redes sociais, é fundamental para o desenvolvimento de modelos mais precisos e personalizados. No entanto, a falta de interoperabilidade entre os sistemas e a subnotificação nos prontuários eletrônicos são obstáculos significativos.
Ambos os especialistas concordaram que o foco na jornada do paciente é essencial para a implementação efetiva da IA na saúde. A Dra. Fabíola destacou a necessidade de considerar não apenas a diversidade de dados, mas também a diversidade dos pacientes e suas necessidades individuais. Ela defendeu a padronização de algoritmos com funcionalidades semelhantes para facilitar o uso pelos médicos e ressaltou a importância da atualização regular desses sistemas.
Jackson Barros apontou a necessidade de uma mudança cultural na forma como os profissionais de saúde interagem com os dados. Ele criticou a verticalização das startups, que desenvolvem soluções isoladas sem considerar a interoperabilidade, e a falta de foco na experiência do paciente. Ele defendeu o desenvolvimento de tecnologias transparentes e centradas no paciente, que facilitem o acesso à informação e promovam a continuidade do cuidado.
A conversa entre a Dra. Fabíola e Jackson Barros apontou para um futuro promissor, mas desafiador, para a IA na saúde. A tecnologia tem o potencial de otimizar processos administrativos, automatizar tarefas repetitivas e fornecer diagnósticos mais precisos, liberando os profissionais de saúde para se concentrarem na interação humana e na empatia com o paciente.
A chave para o sucesso reside na capacidade de superar os desafios atuais, como a integração de sistemas, a padronização de algoritmos e a educação dos profissionais de saúde. Além disso, é crucial que o desenvolvimento de soluções de IA seja guiado pelo foco na jornada do paciente, garantindo a acessibilidade, a transparência e a humanização do cuidado.
A IA não deve substituir o profissional de saúde, mas sim capacitá-lo a oferecer um atendimento mais eficiente, personalizado e humanizado. O futuro da medicina depende da capacidade de integrar a tecnologia com a expertise humana, transformando a saúde digital e melhorando a vida dos pacientes.