Por anos, o conselho para profissionais de produto foi se especializar profundamente em uma habilidade, mantendo um conhecimento básico em outras áreas — o famoso formato "T". Essa estratégia parecia inteligente, permitindo a especialização e a colaboração entre diferentes disciplinas. No entanto, com o avanço acelerado da Inteligência Artificial (IA), essa abordagem está se tornando obsoleta. A IA está se tornando assustadoramente eficiente em tarefas especializadas. Se sua única habilidade for algo que a IA pode fazer melhor e mais rápido, qual será o seu valor no mercado? A resposta reside no formato "pente", uma nova abordagem que prioriza o desenvolvimento de expertise em múltiplas áreas, tornando o profissional mais adaptável e, consequentemente, mais valioso.

O profissional em formato "T" é como aquele amigo que sabe um pouco de tudo no quiz do pub, mas arrasa em uma categoria específica. Ele possui conhecimento amplo, mas aprofunda-se em apenas uma área. No mundo do design e produto, essa era a regra de ouro. Contudo, a rápida transformação impulsionada pela IA exige mais. A analogia do "valete de todas as obras, mestre de nenhuma, mas muitas vezes melhor que mestre de uma" ilustra perfeitamente a importância da amplitude de habilidades. Na verdade, prefiro "valete de todas as obras, mestre de algumas".
Já o profissional em formato "pente", por sua vez, assemelha-se a um canivete suíço. Domina múltiplas áreas com expertise, como pesquisa UX, wireframing, análise de dados, e talvez até mesmo codificação ou estratégia de negócios. Essa versatilidade permite que ele se adapte às mudanças do mercado, integre novas ferramentas (como a própria IA) ao seu fluxo de trabalho e resolva problemas de forma holística, utilizando diversas habilidades complementares. Enquanto o profissional "T" é um exímio pizzaiolo, o profissional "pente" faz pizzas, grelha carnes, prepara massas e ainda pilota a moto para entregar tudo! Em um cenário onde a IA muda as regras do jogo constantemente, as empresas buscam profissionais versáteis, capazes de solucionar problemas em diferentes disciplinas e aproveitar ao máximo as novas tecnologias.
Imagine um gerente de mídias sociais cuja função se resumia a escrever posts, agendar conteúdo e criar imagens. Com o surgimento de ferramentas como ChatGPT, Buffer e Canva, muitas dessas tarefas foram automatizadas. A demanda mudou: as empresas passaram a buscar profissionais com expertise em branding, estratégia e análise de dados. O mesmo ocorre agora com o design e desenvolvimento de produto. A IA gera designs de interface em segundos, cria textos para UX com velocidade impressionante e analisa o comportamento do usuário com ferramentas como Maze e Hotjar. O valor do profissional, então, reside na capacidade de formular as perguntas certas, interpretar os dados e tomar decisões estratégicas.
A transição para o formato "pente" começa com a identificação de habilidades complementares à sua especialidade. Um designer de UI pode aprender pesquisa UX para basear suas decisões em dados concretos, enquanto um gerente de produto pode se beneficiar de noções de código ou análise de dados para prototipar e mensurar o comportamento do usuário. Desenvolvedores podem incorporar a automação com IA para otimizar tarefas repetitivas e focar em desafios mais complexos. A IA deve ser vista como uma assistente, não uma ameaça. Ela automatiza tarefas tediosas, como geração de wireframes, transcrição de entrevistas e sugestão de testes A/B. Ferramentas como Uizard, Notion AI e Looker aceleram o fluxo de trabalho, liberando tempo para o profissional se concentrar em estratégia, criatividade e na resolução de problemas reais dos usuários.
A chave é aprender a integrar a IA à sua rotina, utilizando-a como uma ferramenta para testar ideias, gerar insights e automatizar tarefas. Aqueles que aprenderem a colaborar com a IA, em vez de combatê-la, sairão na frente. A IA não substituirá designers e desenvolvedores, mas os tornará mais rápidos, eficientes e valiosos. Comece aos poucos, escolha uma ferramenta complementar à sua área e aplique-a em seus projetos. O aprendizado prático é fundamental para assimilar novas habilidades sem se sobrecarregar. A jornada para se tornar um profissional "pente" é gradual, mas essencial para prosperar na era da IA. Os melhores profissionais digitais não são apenas especialistas, mas sim adaptáveis, multifacetados e dispostos a evoluir constantemente. A adaptação é a chave para a sobrevivência e o sucesso neste novo cenário tecnológico.