A minha trajetória na programação começou nos anos 80, uma época em que os computadores ainda eram objetos misteriosos e inacessíveis para a maioria. Enquanto as crianças de hoje crescem imersas em smartphones e tablets, na minha infância, a ideia de ter um computador em casa parecia tão distante quanto colonizar Marte. Meu primeiro contato com esse universo foi através dos videogames, porta de entrada para um mundo de pixels e possibilidades. Lembro-me do fascínio ao ver aqueles gráficos rudimentares em jogos como Tron e imaginar como aquilo era possível. O Atari, o Nintendinho, todos esses consoles eram, na essência, microcomputadores que despertavam a curiosidade sobre o funcionamento daquela “mágica”.
No Brasil dos anos 80, sob a reserva de mercado, a tecnologia estrangeira era artigo de luxo. Os computadores disponíveis eram clones de modelos como o Apple II e o Macintosh, como o Unitron e o CP500. Apesar das limitações, esses equipamentos abriram caminho para a programação. A linguagem BASIC, embarcada nesses microcomputadores, era a ferramenta inicial para qualquer aspirante a programador. Criar joguinhos simples, como Jogo da Velha e Forca, era o primeiro passo em uma jornada que, na época, não tinha um destino claro.

O conceito de conectar computadores era revolucionário. Os modems, com seus sons estridentes, permitiam acessar as BBS (Bulletin Board Systems), precursoras das redes sociais. Nessas plataformas, trocávamos mensagens, baixávamos jogos (muitas vezes piratas, via conexões internacionais “gratuitas” com blue boxes) e começávamos a vislumbrar o potencial da comunicação digital. A internet, ainda restrita às universidades e ao exército, era o próximo passo. Lembro-me da emoção ao conseguir minha primeira conta em um servidor Unix na faculdade, com acesso àquela rede incipiente. Baixar arquivos, navegar por sites rudimentares, tudo isso era uma aventura em um território desconhecido.
Em 1995, o ano em que ingressei na faculdade, a internet dava seus primeiros passos comerciais. O Netscape, o JavaScript, o Java, o Windows 95, o HTML, tudo isso surgiu naquele ano, transformando a paisagem tecnológica. A “bolha da internet” começava a se formar, e eu, sem perceber, estava no epicentro desse movimento. Aprender HTML, JavaScript, Java, era como aprender um novo idioma em um mundo que se transformava rapidamente.
O ano 2000 chegou com otimismo, mas logo veio o crash da bolha da internet, seguido pelo 11 de setembro. O mercado de TI sofreu um duro golpe, e a euforia deu lugar à incerteza. Trabalhei em startups (na época chamadas de “.com”), como o iG e o HPG, desenvolvendo sites e lidando com os desafios da segurança online. A internet, ainda questionada por muitos, começava a se consolidar como uma ferramenta essencial para negócios e comunicação.
A partir de 2005, com o surgimento das redes sociais e o crescimento da Amazon, a área de tecnologia ensaiou um retorno. A crise de 2008, porém, trouxe novos desafios. Em meio ao desemprego e à incerteza, surgiram soluções inovadoras como Airbnb e Uber, utilizando a tecnologia para conectar pessoas e criar novas oportunidades. O lançamento do iPhone em 2007 e a abertura da App Store em 2009 impulsionaram o mercado de aplicativos, gerando uma nova onda de inovação e empregos.
A pandemia de 2020 acelerou ainda mais a transformação digital. Com o isolamento social, as ferramentas online se tornaram indispensáveis para trabalho, comunicação e entretenimento. O mercado de tecnologia viveu um novo boom, com contratações em massa e crescimento exponencial das empresas do setor. Mas, como em qualquer ciclo, a euforia deu lugar à cautela. Em 2022, as demissões em massa nas grandes empresas de tecnologia sinalizaram um novo período de ajustes.
A minha jornada na programação tem sido uma constante adaptação a essas mudanças. Do BASIC ao GPT, das BBS à internet de banda larga, cada nova tecnologia trouxe desafios e oportunidades. A lição que aprendi é que, em um mercado caótico e imprevisível, a chave para a sobrevivência é a capacidade de aprender, se adaptar e buscar constantemente novas perguntas, pois as respostas, como o número 42 do Guia do Mochileiro das Galáxias, só fazem sentido se a pergunta estiver correta.