O mercado de tecnologia, historicamente cíclico, passa por transformações estruturais a cada mudança de plataforma. Após a bolha da internet e a era da infraestrutura, que impulsionou gigantes como Apple, Google e Microsoft, chegamos à era da Inteligência Artificial (IA), marcada pela ascensão dos Large Language Models (LLMs), como o ChatGPT. Essa nova onda tecnológica promete revolucionar a interação humano-tecnologia, abrindo um leque de oportunidades para investidores. Assim como em ciclos anteriores, os primeiros beneficiados são os players de infraestrutura, como a NVIDIA, que experimentou um crescimento exponencial em 2023 impulsionado pela revisão de lucros. O próximo passo, e o mais empolgante, é o desenvolvimento de aplicações inovadoras construídas sobre essa nova infraestrutura. É nesse cenário que a Kiné Investimentos, gestora de um dos maiores fundos multimercados do Brasil, concentra suas apostas, buscando identificar os vencedores e perdedores da nova era tech. A carteira Long & Short da Kiné reflete essa visão, apostando em empresas com potencial de crescimento e se protegendo daquelas que podem ficar para trás. Vamos analisar algumas das posições-chave dessa carteira e o raciocínio por trás delas.
A NVIDIA, com seu crescimento de receita de 170% ano a ano em 2023, se consolidou como a grande vencedora da fase inicial da era da IA. Seu sucesso, impulsionado pela demanda por GPUs para treinamento de modelos de IA, resultou em revisões expressivas de lucro. No entanto, a Kiné optou por desinvestir na NVIDIA recentemente, devido às altas expectativas para 2024 já precificadas no valor da ação. Apesar da empresa continuar entregando resultados acima do esperado, a falta de visibilidade para 2025 e o foco da Kiné na camada de aplicações justificam a saída da posição. A NVIDIA, pioneira na computação paralela, construiu sua vantagem competitiva ao antecipar a demanda por IA e investir em P&D anos à frente do mercado. Seu domínio em hardware, software e networking a coloca em uma posição privilegiada, dificultando a entrada de concorrentes. O desenvolvimento de cada nova GPU, que custa bilhões de dólares e leva anos de pesquisa, reforça essa barreira. Ainda que a NVIDIA seja um investimento promissor no longo prazo, a Kiné acredita que existem oportunidades mais atraentes no curto prazo, especialmente no segmento de aplicações.
O Google, rei da era da internet, enfrenta o risco de ser deslocado pela ascensão dos agentes de IA. Com a pesquisa como sua principal fonte de receita, o Google depende da interação do usuário com a internet através de seu portal. A era dos agentes de IA, que podem realizar pesquisas e tarefas diretamente para o usuário, ameaça esse modelo de negócio. Apesar dos esforços do Google em desenvolver sua própria IA, a burocracia corporativa e a lentidão na inovação têm prejudicado seu progresso. O adiamento do lançamento do Gemini, seu modelo concorrente do GPT-4, ilustra essa dificuldade. A Apple, por sua vez, apesar de seu histórico de inovação, tem se mantido silenciosa na corrida da IA. Sem nenhum produto de IA de destaque, a empresa corre o risco de perder espaço na próxima mudança de plataforma. A competição acirrada na China, com a retomada da Huawei, também representa uma ameaça para a Apple, que se beneficiou da saída da concorrente em 2019. Com múltiplos elevados e perspectivas de crescimento moderadas, a Apple se torna um alvo para posições short na carteira da Kiné.
A Microsoft, ao contrário do Google, se posicionou de forma estratégica na era da IA, investindo na OpenAI e integrando a tecnologia em seus produtos. Os Copilotos, assistentes virtuais para o pacote Office, prometem revolucionar a produtividade e se tornar um produto-chave para a empresa. Além disso, a Microsoft, com sua plataforma de nuvem Azure, possui a maior base instalada de GPUs da NVIDIA, garantindo sua participação na infraestrutura da IA. A Meta, por sua vez, surpreendeu o mercado com sua rápida adaptação à IA. Após enfrentar desafios com a mudança de políticas de privacidade da Apple, a Meta utilizou a IA para aprimorar seus modelos de direcionamento de anúncios e se tornou uma player relevante no desenvolvimento de modelos open source. Com um valuation atrativo e diversas opcionalidades positivas, a Meta se destaca como uma oportunidade interessante. A TSMC, a "empresa mais importante que ninguém conhece", desempenha um papel crucial na fabricação de semicondutores avançados, incluindo os chips de IA da NVIDIA. Após um ano de ajuste em 2023, a TSMC se prepara para uma recuperação em 2024, impulsionada pela demanda por smartphones, PCs e servidores. Com um valuation descontado e uma perspectiva de crescimento de 50% ao ano na divisão de IA nos próximos três anos, a TSMC se torna uma aposta promissora. A Amazon, após um período de ajustes e cortes de custos, se prepara para uma recuperação em 2024. Com a otimização de sua estrutura de custos no e-commerce e a estabilização da AWS, sua divisão de nuvem, a Amazon apresenta um potencial de crescimento significativo. A AWS, pioneira na computação em nuvem, também está investindo em IA, buscando recuperar o terreno perdido para a Microsoft. A Micron Technology, fabricante de memórias, é uma aposta cíclica e mais arrojada. Após um período de ajuste em 2023, a Micron se beneficia da recuperação dos mercados de smartphones, PCs e servidores. Com um valuation atrativo e uma crescente demanda por memórias específicas para IA, a Micron oferece um potencial de retorno elevado, porém com maior volatilidade. Em resumo, a carteira Tech da Kiné reflete uma visão de longo prazo, apostando nas empresas que estão se adaptando e inovando na era da IA. Com uma combinação de players de infraestrutura, aplicações e empresas cíclicas, a carteira busca capturar o potencial de crescimento do setor, ao mesmo tempo em que se protege dos riscos inerentes à rápida transformação tecnológica.
