Estamos vivendo um momento crucial na história da comunicação. A inteligência artificial (IA), antes confinada à ficção científica, está se tornando onipresente em nossas vidas, transformando a maneira como interagimos com a tecnologia e, consequentemente, uns com os outros. Observamos avanços impressionantes em áreas como carros autônomos, reconhecimento de imagem e robótica, mas a IA vai muito além dessas aplicações, permeando nosso cotidiano de formas muitas vezes imperceptíveis. Ela já compreende nossos gostos, recomenda produtos e filmes, traduz textos e facilita nossas tarefas diárias. No entanto, a verdadeira revolução acontece quando essa tecnologia se conecta com a mais antiga e poderosa ferramenta de comunicação humana: a linguagem.
A linguagem é a base da nossa civilização, permitindo-nos planejar, agir e compartilhar ideias. É através dela que conceitos abstratos ganham forma e se transmitem de uma mente para outra. Hoje, estamos falando por voz e texto com a tecnologia, utilizando uma nova interface que não apenas simplifica o uso de dispositivos, mas também expande suas capacidades. Podemos pedir à IA para traduzir um texto em japonês, controlar nossa televisão ou até mesmo solicitar a segunda via de um boleto. A IA, embora invisível na maior parte do tempo, se manifesta de forma clara em dispositivos como as caixas de som inteligentes, nas quais gigantes da tecnologia como Google e Amazon investem pesado para torná-las cada vez mais acessíveis.

Os chatbots, por sua vez, ganharam destaque nos últimos anos, especialmente após o investimento do Facebook em ferramentas para desenvolvedores. Eles desempenham um papel fundamental no suporte ao consumidor, um setor cada vez mais digital. Com a crescente migração das compras para o ambiente online, esses assistentes virtuais se tornaram peças-chave na construção de uma jornada de consumo digital completa e eficiente. Na Nama, por exemplo, acumulamos mais de 9 milhões de atendimentos realizados por humanos e IA nos últimos 20 meses, o equivalente a 27 anos de conversa. Um projeto piloto em parceria com o governo do estado de São Paulo, para auxiliar no agendamento e tirar dúvidas da população sobre documentação, comprovou a eficácia dessa tecnologia. Sem qualquer divulgação, o chatbot assumiu 70% dos acessos da ferramenta anterior na primeira semana, trocando mais de 130 milhões de mensagens com 14 mil usuários diários.
Um dado curioso e revelador é o número de pessoas que agradeceram e até abençoaram a inteligência artificial – mais de 450 mil mensagens. Essa demonstração de afeto, ainda que direcionada a linhas de código, ilustra como as pessoas humanizam suas interações com a tecnologia. O Google Duplex, que conecta o mundo offline ao online por meio de assistentes capazes de simular conversas humanas para realizar agendamentos, é outro exemplo marcante dessa interação. A naturalidade da conversa, incluindo pausas e hesitações, e a qualidade da síntese de voz, aproximam a experiência da interação humana.
A construção de uma personalidade universalmente agradável para a IA apresenta desafios únicos. Como essa personalidade reagirá a situações desagradáveis, como assédios e insultos? Um estudo da revista Quartz sobre a reação dos assistentes pessoais a esse tipo de abuso revelou a tendência da máquina em evitar o assunto ou oferecer respostas positivas, mesmo diante de provocações. Essa constatação levanta questões sobre a responsabilidade dos desenvolvedores na construção de IAs éticas e resilientes a comportamentos abusivos.
Outro ponto crucial é o viés humano no aprendizado de máquina (machine learning). A IA precisa de dados iniciais para treinar seus algoritmos e, consequentemente, reproduz os vieses presentes nesses dados. Isso nos leva a questionar a diversidade das equipes que desenvolvem essas tecnologias e a representatividade dos dados utilizados para treinamento. As máquinas, afinal, aprendem com a sociedade que as cria, e suas respostas refletem os valores e preconceitos presentes nessa sociedade. O receio em relação ao impacto da IA no mercado de trabalho é legítimo, mas podemos enxergá-la como uma ferramenta para potencializar as capacidades humanas, em vez de uma ameaça aos empregos. A colaboração entre humanos e máquinas pode gerar resultados superiores aos obtidos por cada um isoladamente. Bilhões de dispositivos já se comunicam conosco em linguagem natural, e esse número tende a crescer exponencialmente, criando novas possibilidades e desafios éticos. Cabe a nós, como sociedade, garantir que a IA seja utilizada para construir um futuro mais simples, leve e inclusivo, onde tanto pessoas quanto máquinas aprendam e evoluam juntas.