A Inteligência Artificial (IA) tem dominado as conversas, gerando fascínio e, às vezes, apreensão. Para desmistificar esse campo em constante evolução, conversamos com o Professor Mauro Rosenberg, graduado em Engenharia Mecânica e doutor em Engenharia Elétrica, especialista no tema. Nesta entrevista, exploramos os fundamentos da IA, suas aplicações práticas e o impacto dessa tecnologia em nossas vidas.
Professor Rosenberg define IA como a aplicação de técnicas computacionais para resolver problemas complexos utilizando conhecimento. Diferente da concepção popular de uma consciência artificial, a IA, em sua essência, se baseia em processamento de dados e algoritmos. Existem duas abordagens principais: top-down, que extrai conhecimento de especialistas e o codifica em regras, e bottom-up, que aprende a partir de dados e exemplos, como o funcionamento de um carro autônomo que aprende observando motoristas humanos. No entanto, o professor ressalta que mesmo nos carros autônomos, há a incorporação de conhecimento explícito para lidar com situações imprevistas, como a necessidade de intervenção humana em caso de cenários não aprendidos durante o treinamento.
A IA não se trata de uma consciência artificial tomando decisões autônomas, mas sim da aplicação de algoritmos e processamento de dados para simular a inteligência humana. O exemplo do reconhecimento de imagens ilustra bem esse ponto: uma IA não "vê" uma imagem como um humano, mas a interpreta como um conjunto de pixels e padrões, aprendendo a associá-los a objetos e conceitos a partir de um vasto banco de dados. Essa capacidade de aprendizado e generalização é potencializada por tecnologias como as placas de vídeo (GPUs), que aceleram o processamento de grandes volumes de dados, permitindo o treinamento de redes neurais mais complexas e eficientes.
As aplicações da IA são vastas e permeiam diversos aspectos de nossas vidas. Desde sistemas de recomendação de produtos, como o exemplo do sommelier virtual que sugere o vinho ideal para uma refeição, até assistentes virtuais como o ChatGPT, a IA está presente em nosso cotidiano. O ChatGPT, baseado em grandes modelos de linguagem (LLMs), captura a distribuição de probabilidade da linguagem humana a partir de textos disponíveis na internet, permitindo a geração de respostas e a realização de tarefas complexas como tradução e criação de conteúdo. No entanto, como destaca o professor, a IA ainda é suscetível a erros e vieses, necessitando de aprimoramento contínuo e supervisão humana.
O professor Rosenberg concentra suas pesquisas na aplicação da IA em geociências, especialmente na otimização da perfuração de poços de petróleo. A IA auxilia na tomada de decisões cruciais, como a escolha da melhor broca e a velocidade de perfuração, levando em consideração fatores como desgaste, tipo de rocha e custos envolvidos. A tecnologia também é aplicada na interpretação de dados sísmicos, permitindo a identificação de possíveis reservatórios de petróleo e a caracterização quantitativa das rochas subsuperficiais. O professor destaca o potencial dos modelos generativos, como as redes Generative Adversarial Networks (GANs) e os Transformers, para revolucionar a análise de dados geológicos e a previsão de cenários complexos.
Apesar do potencial disruptivo da IA, Professor Rosenberg enfatiza a importância da cautela e da regulamentação. Assim como o advento do automóvel trouxe desafios e a necessidade de regras de trânsito, a IA requer diretrizes e mecanismos de controle para mitigar riscos e garantir seu uso responsável. O futuro da IA é promissor, com aplicações em áreas como saúde, segurança e meio ambiente, mas seu desenvolvimento deve ser acompanhado de discussões éticas e da busca por soluções que beneficiem a humanidade como um todo.
